terça-feira, 21 de outubro de 2008

Crise de Identidade

Já parou para pensar que temos um problema de identidade ?

É um problema simples, mas acaba incomodando. Veja se você também já passou por isso.

Você encontra um amigo em uma festa. Conversa vai, conversa vem, e você pergunta:
- Rapaz, mas e o trabalho, como está indo ? Tudo bem por lá ?
- Sim, tudo certinho. Continuo trabalhando com vendas. Negocio peças de automóveis. E você, tá fazendo o quê ?
- Trabalho com algo muito interessante, além de muito novo, principalmente no contexto brasileiro. Trabalho com ......

Nesse momento você para e se pergunta qual mesmo é o nome do que você faz. São tantas opções que você já nem sabe mais o nome que usa. Para não deixar aquele espaço vago no ar e o seu amigo achar que você está trabalhando em uma dessas empresas de marketing de rede, você apela e diz "Trabalho com perícia. Perícia de computador".

Mil Nomes

No fim das contas, quem pode com toda propriedade dizer que trabalha com perícia de computadores são os peritos criminais. Esses são os únicos que são peritos. Quem trabalha na iniciativa privada pode ser nomeado perito em um processo, e nesse caso, a pessoa "está" perita.

Além disso, há uma verdadeira salada de nomes. Vejamos alguns:
- Perícia Forense Aplicada a Informática
- Perícia Computacional
- Forense Computacional
- Informática Forense
- Investigação Digital
- eDiscovery
- Forense Digital

Comentando um pouco sobre cada um:

- Perícia Forense Aplicada a Informática
É o nome usado por uma lista de discussão sobre o assunto. Acho o termo um tanto vago, pois, fazendo uma analogia, nunca li sobre expressões similares em relação a outras ciências forenses. Por exemplo, nunca vi Perícia Forense Aplicada à Medicina, ou Perícia Forense Aplicada à Química.

- Perícia Computacional
Segue a lógica dos termos Perícia Contábil, Perícia Médica, Perícia Criminal, etc. Acredito que esteja mais ligado à uma atividade/ação, denotando um exame para averiguar algo, do que ao nome de uma ciência.

- Forense Computacional
É o nome do meu blog, mas nem por isso acho o mais adequado. De qualquer forma, é a tradução literal de Computer Forensics, termo em inglês usado mundialmente. É muito usado, principalmente pelos pioneiros dessa atividade no Brasil, como a Axur, por exemplo.

- Informática Forense
É o que me parece mais lógico. Pelo menos, segue o paralelo com outras ciências forenses mais antigas, como Biologia Forense, Balística Forense, Documentoscopia Forense, etc.

- Investigação Digital
Termo aplicado às mesmas técnicas da Informática Forense, mas cujo objetivo principal não é (pelo menos inicialmente) a prova jurídica, mas sim a descoberta de informações. Acredito que este termo seja o mais aplicado quando estamos trabalhando no mercado corporativo e precisamos verificar/investigar algo.

- eDiscovery
Termo em inglês que se refere a uma etapa do processo civil no direito americano onde as evidências são apresentadas. eDiscovery seria a apresentação das evidências eletrônicas, e para isso muitas técnicas similares as técnicas de Forense Computacional são usadas. Não pode ser usado como sinônimo para Forense Computacional, ainda que use técnicas parecidas. (Agradecimento ao colega Guilherme Damásio pelos esclarecimentos e ajuda).

- Forense Digital
Aproximação do nome Forense Computacional. Alguns autores usam este termo.

Gostaria de ver comentários sobre isso. Qual nome você prefere, ou imagina que exprime da melhor maneira o nome dessa nova ciência ? Na sua opinião, essa ausência de um nome "oficial" atrapalha ?

Comentem !

Até o próximo post !

7 comentários:

Cagiva Elefant 900 disse...

Olá Tony!
Minha opinião é de que a definição de um nome oficial não vai mudar muita coisa.
Vou um pouco mais adiante... percebo por ai muita gente defendendo a criação de uma entidade de classe para regular o exercício da profissão.
Acho isso bobagem.
Entendo que nossa realidade permite a alguém qualificar-se perfeitamente para desempenhar com qualidade as atividades e funções de um perito e fazer forense computacional (prefiro usar este), sem mesmo haver cursado uma faculdade.
Penso que a qualificação do profissional deve ser preocupação do tomador do serviço, e não vai ser a filiação ao Conselho Regional de xxx que vai garantir esta qualificação.

Tony Rodrigues disse...

Eu concordo com vc em parte, Pierre.
Essa questão de entidade de classe e outras podem ser vistas como proteção da qualidade e do nome dos profissionais, exigindo requisitos mínimos para exercê-la. Tem um post meu aqui no blog sobre um estado americano que passou a exigir formação de investigador para poder exercer a profissão em Forense Computacional. Esse é um bom motivo, na minha opinião. Há, entretanto, quem veja isso como proteção contra a concorrência. Quanto a essa, eu não me importo, penso como vc, o próprio mercado vai selecionar quem é bom. É a Seleção Natural aplicada ao mercado profissional ... :)
Bom, isto posto, falo do nome. Nesse ponto, eu discordo. Sabe por que ?
Porque o nome é a expressão mais simples de uma identidade, de um grupo. Tudo na vida tem nome ... Meu post vai mais além; Eu quis despertar os leitores para o fato de que temos tanta estrada pela frente que nem nome ainda temos !
Esse post é mais um alerta, sabe ?
É mais uma tentativa de acordar a turma para nos mobilizarmos, não no sentido "entidade de classe", mas nos mobilizarmos no sentido de criar instrumentos, procedimentos, normas e boas práticas para que possamos exercer a nossa profissão.
Veja que não temos nada em relação a isso. Nossas regras são todas "importadas", mas nem todas elas fazem sentido porque o sistema jurídico brasileiro é diferente de muitos por aí. No fim das contas, a cada novo caso eu ouço mil orientações diferentes de advogados diferentes.
É esse o tom, no fim das contas, de importância para o nome. Precisamos começar logo e esse é o primeiro degrau dessa escadona ...
Obrigado pelo comentário !
[]s
Tony

Jader Lima disse...

Olá Tony, mas uma vez venho por meio desta, te perguntar sobre o curso, pois vc disse em um post anterior que está finalizando à apostila, sendo assim gostaria de saber se tens previsão de inicia o curso, e sobre o mesmo ser a distância tbm,e se possivel mandar um rascunho do ementario do curso para o meu email.

email -> jaderonline@hotmail.com

Abs, e continue sempre postando material hands-on, e como diz o BBB, estamos de olho.

danpos disse...

Prezado Tony: com a experiência de ser já do "ramo" (perícia criminal == perícia oficial) tenho a acrescentar ao debate o seguinte: na perícia oficial há os serviços - de locais de crime, de balística e exame em armas de fogo, documentos, contabilidade, química, engenharia, por exemplo - e então os peritos que atuam nesses serviços são PERITOS DE LOCAIS, PERITOS DE BALÍSTICA, PERITOS DE CONTABILIDADE, PERITOS DE ENGENHARIA, ... Assim sendo, se o perito oficial atua em um serviço de perícias em informática, seria PERITO DE INFORMÁTICA; se fosse serviço de perícias em computador, então a designação PERITO DE COMPUTADOR OU PERITO EM COMPUTADOR, etc. A designação de PERITO EM FORENSE COMPUTACIONAL - embora "chique" - me parece um pouco forçado.

Danpos.

Tony Rodrigues disse...

Jader,
Estou no final do material, ultimo capitulo da apostila, mas o ritmo está lento pq estou viajando muito. Assim que estiver com o material pronto, vou estudar o lançamento de um curso a distância tb.

Obrigado pela força

Tony Rodrigues disse...

Danpos,

Obrigado pela contribuição. Tenho algumas dúvidas, você poderia nos ajudar ?

- Qual a diferença entre Perito de Informática e Perito de Computador ? Estaria ligado ao objetivo ser hardware x software ?

- Como oficialmente está definido o nome da ciência ? Esse nome estaria entre os que eu citei ?

- Existe alguma documentação que formalize o nome entre os peritos oficiais ou a forma como chamam é parte do senso comum dos profissionais ?

Obrigado pela ajuda !

danpos disse...

Prezado Tony:

Vou responder por partes:

1. Como citei anteriormente, o Perito Oficial (criminal) vai ser SEMPRE PERITO OFICIAL (Criminal), independente do serviço. Nesse sentido nós já temos uma IDENTIDADE. Com relação a designação ser Perito de Informática e/ou Computador, pelo que vejo, o termo "informática" representa para os leigos (aí incluindo autoridades policias e judiciais) tanto questões relativas aos hardwares, quanto aos softwares, seria uma designação mais geral: PERITO EM INFORMÁTICA / PERITO DE INFORMÁTICA.

2. Até onde sei, não há nada regulamentado oficialmente, mas entendo (s.m.e.) que "PERÍCIA EM COMPUTADORES ou PERÍCIA EM INFORMÁTICA) seriam adequados (se o objetivo da perícia for para levantar e coletar provas para ser usada em processo criminal e/ou civil, não há porque falar em 'forense', isto fica já entendido que é para essa finalidade).

3. Até onde sei não existe esse documento, até porque como já disse o Perito Criminal é ... Perito Criminal. Ponto. Agora onde ele vai exercer sua "expertise" vai depender de seus conhecimentos especializados e da necessidade do serviço.

No teu caso, entendo (s.m.j) que sendo um profissional especializado em INFORMÁTICA (sentido 'lato', pois você tem conhecimentos especializados na área de segurança pelo que parece), você poderia tranqüilamente se apresentar como "Perito em Informática", o que abrangeria todo o contexto e seria de mais fácil percepção para os "leigos".

Danpos.